Iara

Uma história fictícia escrita por Rodrigo Flinkas para inspirar e descrever esse mito fantástico do folclore brasileiro.

Escrito por: Rodrigo Flinkas.

Iara, Yara ou Uiara (do tupi y-îara, "senhora das águas" ou "Mãe-d'água") é, segundo o folclore brasileiro, uma sereia incrivelmente bela que vive no rio Amazonas, mas pode viajar através de quaisquer rios, lagos ou oceanos.

Em uma das tribos tupi-guarani, Iara nasceu filha de um poderoso Pajé que teve outros 3 filhos. Essa tribo especificamente não tinha nenhuma tradição de impedir as mulheres de aprender a lutar ou usar armas. Assim, Iara foi, como qualquer outro homem ou mulher, treinada desde criança e se tornou uma poderosa guerreira desenvolvendo incrível agilidade e resistência. Por ser a única filha de 4 irmãos, seu pai tinha um carinho e uma dedicação especial com sua filha, provocando ciúmes nos filhos que sempre tentavam sabotar as atividades de Iara na tentativa de chamar a atenção do pai.

Ela cresceu e se tornou uma mulher incrivelmente bonita. Tão linda que toda a Tribo a reverenciava como tendo um toque e benção dos deuses e quando ela começava a cantar, não havia quem não apreciasse sua voz inebriantemente doce. Por ser mulher, apesar de suas habilidades para caça e luta, tinha suas atividades como qualquer outra mulher da tribo como cozinhar e cuidar de crianças e nunca reclamou disso, cumprindo todas as suas obrigações com orgulho e carinho. Ela era perfeita em outras palavras.

Iara tinha tanta admiração que a tribo pediu ao Cacique e ao Pajé que a nomeassem e abençoassem como uma deusa o que, claro, despertou um ciúme ainda maior de seus irmãos. Seus irmãos decidiram não deixar isso acontecer e a única maneira possível em suas mentes era matá-la.

Eles se reuniram secretamente planejando como executar o plano, que deve ser executado com perfeição porque as leis tribais eram muito rígidas e matar um membro da tribo seria punido com a morte pelo Mapinguari.

O Pajé e o Cacique precisariam de alguns dias consultando os espíritos da Floresta e os deuses para confirmar o desejo da tribo e então, os irmãos tiveram que se apressar com a execução dos planos, aproveitando que tanto o Cacique quanto o Pajé estavam isolados consultando o deuses em um ritual restrito, iniciando assim esse plano maligno.

Iara era uma guerreira então era comum pedir para ela ficar na vigília noturna e então, eles fizeram e sem desconfiar de nada, ela assumiu o plantão e no meio da noite, seus irmãos começaram a fazer barulhos como um caçador forasteiro entrando em seu território e a atraíram para uma armadilha arrastando-a para dentro da floresta. Depois de chegar a um lugar onde ninguém poderia ouvi-la eles tentaram matá-la mas, como dito, apesar de sua beleza de deusa, ela era uma guerreira e foi um erro pensar que mata-la seria uma tarefa fácil. Por instinto ela lutou como eles nunca viram e mesmo ferida gravemente nas duas pernas, ela conseguiu matar 2 deles. O irmão sobrevivente, mesmo gravemente ferido, fugiu de volta para a tribo e ao alcançá-los começou a pedir ajuda contando a todos que Iara matou seus outros 2 irmãos, interrompendo assim o ritual em que o Cacique e o Pajé consultavam os deuses. O último irmão morreu nos braços de seu pai e as últimas palavras ouvidas dele foram que Iara os matou.

Ela foi incapaz de correr devido a seus ferimentos e desmaiou devido ao sangramento, mas ainda estava viva. O Cacique, o Pajé e outros guerreiros foram para a selva procurando por ela e quando ela foi encontrada, o que viram foi uma cena de matança com um filho desmembrado com as tripas saindo de seu corpo e o outro decapitado. O Pajé foi consumido pela raiva, decepção e profunda tristeza aconselhando o Cacique a executar sumariamente a pena tribal por aquele ato de selvageria, mas com uma ressalva, ele executaria sua morte não pelo Mapinguari, ja que ela ja estava à beira da morte, mas a jogaria no rio pois com suas pernas feridas, ela não conseguiria nadar e se afogaria. E assim foi feito sem que ninguém ouvisse seu lado da história.

Ela foi jogada na confluência entre os rios Solimões e Negro, onde seu corpo afundou sem deixar vestígios.

Afundando sem capacidade de nadar Iara começou a rezar aos deuses pedindo misericórdia e justiça e antes de perecer nas águas escuras, outro ser mítico veio em seu socorro, um Ipupiara, criatura descrita em 1576 pelo explorador, cientista e historiador português Pero de Magalhães Gandavo como um monstro marinho, ou um homem-peixe que vivia naquelas águas.

O Ipupiara então resgatou Iara e imediatamente se apaixonou, decidindo então conceder-lhe o poder das águas pedindo a benção de Jaci, a deusa Lua, que aceitou o pedido transformando-a nesse ser mítico: meio peixe e meio mulher, ela pode como punição pela injustiça sofrida pelas mãos dos homens, cantar com sua voz de anjo hipnotizando qualquer homem e arrastando-o para o fundo do rio o afogando e se alimentando dele. Os homens que conseguem escapar de seus encantos, nunca recuperam a sanidade e mergulham na loucura completa.

Iara não se limita aos rios amazônicos e é comum ter histórias de pescadores de todo o mundo mencionando esse ser e aqueles que desapareceram encantados com sua voz e beleza ou mesmo aqueles que conseguiram escapar acabaram afundando em completa loucura com cicatrizes de mordidas no pescoço para toda a vida.

Seus poderes vão além da voz encantadora, podendo prever o futuro e andar sobre a terra seca com sua cauda de peixe transformando-se em pernas. Iara possui seus poderes vindos diretamente de Jaci, a deusa Lua e de sua descendência de Gaia.

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