Mapinguari
Uma história fictícia escrita por Rodrigo Flinkas para inspirar e descrever esse mito fantástico do folclore brasileiro.
Disclaimer: Legends of Amazon é um jogo voltado para maiores de 18 anos e suas histórias (inspiradas em fatos reais) podem causar desconforto devido à presença de violência ou humilhação.
Escrito por: Rodrigo Flinkas.
Para entender esse mito, temos que falar primeiro sobre o Pajé e o que é esse importante membro de uma tribo indígena.
O Pajé ou Pagé é uma pessoa de destaque em certos grupos indígenas e eles são o guia espiritual, conselheiro-chefe e curandeiros supostamente com poderes ocultos e conexão com a vida após a morte. Junto com o Cacique (líder da tribo) é o membro detentor de todo o conhecimento da tribo desde sua origem. Algumas tribos são centenárias e, portanto, é comum que esses indivíduos dediquem tempo pesquisando diferentes métodos de cura, fitoterapia e ocultismo.
Havia uma tribo localizada no sudoeste da Amazônia brasileira que o Pajé era muito inteligente e décadas à frente de seu tempo. Sua tribo tinha mais de 500 anos e o conhecimento passado de pai para filho era tão grande que outras tribos costumavam vir pedir conselhos. Esse Pajé especificamente foi por décadas dedicado a compreender e acessar o além-vida, atravessando o véu que separa nosso mundo do sobrenatural.
O Pajé também guarda os segredos da produção de uma bebida mágica chamada Caxiri, que é uma bebida alcoólica fermentada tradicionalmente produzida por tribos indígenas da Amazônia. Sua produção segue um conjunto de rituais durante o processo de produção e de acordo com a tradição indígena, a bebida é preparada apenas por mulheres a partir de um processo coletivo, a fim de dar força para realizar trabalhos em grupo como rituais, caça, pesca ou plantio, mas sobretudo permite que os Pajés acessem o mundo sobrenatural durante os rituais de "Turé" e "Tocai". Nessas ocasiões, tanto o pote quanto o Caxiri tornam-se "entidades sobrenaturais", presentes na mitologia indígena.
Esse Pajé especificamente estava obcecado em alcançar a excelência na produção do Caxiri porque sabia que se o Caxiri lhe permitia acessar o mundo sobrenatural ele poderia então desvendar os segredos da imortalidade e passou a realizar experiências com o Caxiri com outras plantas e animais da floresta. Cada vez que ele mudava a fórmula do Caxiri era necessário um animal maior para estabilizar os efeitos permitindo que ele controlasse a fera, acessando o mundo sobrenatural transferindo seu espírito para o corpo animal. Então o Pajé encontrou no Megatério, o corpo perfeito. Esse animal era grande o suficiente para aguentar o efeito do Caxiri por mais tempo e com uma dosagem muito maior, mas havia um problema: se o efeito terminasse ou ocorresse uma interrupção externa, o espírito Pajé ficaria preso no animal para sempre.

O risco era muito grande, mas a ganância e a obsessão pelo conhecimento da imortalidade tomaram conta de seu bom senso e ele decidiu seguir em frente com seus planos, custasse o que for.
Ele reuniu a tribo e ordenou que apenas as mulheres virgens da tribo começassem a produzir o Caxiri, seguindo entao com os rituais "Turé" e "Tocai" repetidamente, até que a Lua Cheia se levantasse. Após horas de exaustivo processo de produção, o Caxiri produzido era tão denso e forte que apenas uma gota poderia levar a mente humana à loucura.
Depois disso, ele ordenou que os rastreadores e caçadores mais habilidosos da tribo capturassem o último espécime do Megatério, chamado por eles de Juma. Passaram meses na selva rastreando até que encontraram o último casal, mataram um deles e trouxeram o último vivo para o Pajé, que não esperou nem um minuto a mais para iniciar o ritual. Este ritual deve ser seguido precisamente sem interrupções, caso contrário não funcionaria e uma catástrofe aconteceria.
As instruções foram claras, o Juma deve ser o último vivo, o Caxiri deve estar pronto e o espírito do Pajé deve se desdobrar à noite quando o véu entre nosso mundo e o sobrenatural se torna mais fino.

O ritual começou e o Juma estava realmente agressivo, muito mais do que o habitual e eles não sabiam o porquê, mas o Pajé decidiu seguir em frente e depois de obrigar o Juma a consumir o Caxiri ao mesmo tempo que ele proprio, ambos começaram a sincronizar suas mentes e o espírito do Pajé voou livremente tomando conta do corpo de Juma, quando descobriu-se a desagradavel surpresa: Este Juma não era o último, esse espécime era uma fêmea, estava grávida e muito perto de entrar em trabalho de parto. O efeito do Caxiri e o espírito do Pajé se ligaram a esse corpo, que passou a ser rejeitado pelo bebê e deu início a um bizarro efeito em cascata. Neste momento o Cacique entrou em pânico e tentou despertar o corpo do Pajé, que então desconectou-se de seu espírito (lembre-se, o ritual deve acontecer sem interrupções) e o corpo do Pajé começou a perecer sem sua alma uma vez que o Cordão de Prata foi rompido. O caos completo estava montado.
O espírito do Pajé ja estava andando pelo mundo sobrenatural, explorando o conhecimento disponivel quando sentiu que algo estava errado e ao retornar ao corpo de Juma, percebeu o Caos e as ações catastróficas dos membros da tribo tentando acordá-lo. Além disso, ele sentiu o bebê do Juma tentando sair do corpo de sua mãe. O bebê estava rasgando a barriga de sua mãe em uma tentativa desesperada para sair quando então o Pajé tomou a única ação possível para interromper aquele caos, iniciando um feitiço para fundir o corpo da mãe, o corpo do bebê e seu espírito. Ao mesmo tempo, o Juma estava com suas garras enormes e afiadas, despedaçando todos os membros da Tribo que participavam do ritual e o último vivo tentou ainda matar a fera atirando uma lança nos olhos de Juma cegando-a em um de seus olhos. Quando a bocarra do bebê já estava fora da barriga de sua mãe, o feitiço finalmente terminou e então essa criatura poderosa e bizarra surgiu, o Mapinguari.
O Mapinguari é um gigante faminto e peludo, com um olho só, uma enorme mandíbula no abdômen, braços longos e garras afiadas. Devido à sua forma bizarra de ganhar a vida, é imortal devido ao conhecimento aprendido pelo Pajé durante sua caminhada pelo mundo sobrenatural.
Apesar da mente e do espírito do Pajé controlá-lo, ele foi levado à loucura devido à alta densidade do Caxiri ingerido durante o ritual de sua criação e percorre a floresta em busca de animais e pessoas para devorar sem qualquer controle.
Se o Pagé tenta falar, o som produzido pelo Mapinguari é semelhante a um grito de comunicação dado por caçadores. Se alguém atende, sem saber vai ao encontro da Morte e acaba perdendo a vida. A criatura é selvagem e não tem medo de nada e é capaz de derreter aço quando sopra no cano de uma espingarda. Os ribeirinhos amazônicos contam muitas histórias de grandes batalhas entre o Mapinguari e bravos caçadores que de alguma forma conseguem sobreviver, muitas vezes mutilados ou com terríveis cicatrizes em seus corpos pelo resto de suas vidas. Alguns dizem que o Mapinguari só percorre as matas durante o dia, guardando a noite para dormir, mas a verdade é que à noite é quando o Pajé tenta se desconectar do corpo do Juma, mas como punição à ganância do conhecimento sobre a vida eterna, ele ficara preso para sempre nesse corpo infernal. Quando ele caminha pela mata, ele grita quebrando galhos e derrubando árvores, deixando um rastro de destruição. Seu cheiro fétido é tão forte que pode incapacitar qualquer pessoa dentro do seu alcance.

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