Saci

Uma história fictícia escrita por Rodrigo Flinkas para inspirar e descrever esse mito fantástico do folclore brasileiro.

Escrito por: Rodrigo Flinkas.

Jaxy Jatere, antes de se tornar um mito, teve uma vida de muitas lutas e conquistas quando ainda estava livre em terras africanas. Contos contam que Jaxy era um guerreiro e que ele foi traído por um grupo de outros guerreiros de sua tribo e vendido como escravo para trabalhar nas terras do Novo Mundo. Chegando à Terra Brasilis, Jaxy foi forçado a trabalhar e sofreu como milhões de outros escravos traficados para o Brasil entre os anos 1500 e 1800. A aplicação de severa humilhação física e punição muitas vezes levava à mutilação, deformação, desfiguração ou morte. Soma-se a isso as condições de vida geralmente precárias, vivendo em moradias rústicas e muitas vezes insalubres, realizando trabalhos pesados em longas horas, recebendo pouca ou nenhuma assistência médica e alimentação de baixa qualidade.

Escravos descansando na casa de um senhor, a caminho de outra fazenda, 1830, por Rugendas

Jaxy era um guerreiro, inteligente e estrategista comparado a um general em sua tribo nativa. Passou dias se submetendo às atrocidades da escravidão para estudar e aprender as rotinas, pessoas, armas e estratégias, começando assim a se tornar uma referência entre os escravos como líder.

Ele tinha uma habilidade extraordinária no escapismo, conseguindo se livrar de quaisquer amarrações e prisões, mas não conhecendo o terreno e as florestas, foi recapturado inúmeras vezes pelo "Capitão do Mato".

"(Capitão do mato) O caçador de recompensas à procura de escravos fugitivos", 1823, por Rugendas

Após cada captura, Jaxy foi submetido a humilhações e punições cada vez piores.

A flagelação pública de um escravo no Rio de Janeiro, por Jean-Baptiste Debret, Voyage pittoresque et Historique au Brésil (1834-1839)

Em uma dessas punições, Jaxy foi mutilado gravemente perdendo uma de suas pernas como tentativa de impedi-lo de escapar, mas naquele momento, Jaxy já sabia qual caminho seguir pela floresta em sua próxima investida.

Depois de milagrosamente se recuperar de sua mutilação, Jaxy se preparou pacientemente, esperou o anoitecer e se lançou no que seria, pelo menos em sua cabeça, a última tentativa. Jaxy já estava muito fraco, mutilado e perdendo a vontade de viver, mas preferia estar morto a se submeter novamente às humilhações da escravidão.

Jaxy então se libertou de seus grilhões quebrando suas correntes e com apenas uma das pernas fugiu da senzala que o aprisionava. Quando o capitão do mato percebeu sua fuga, Jaxy já estava na densa floresta, seguindo o caminho que havia desbravado em sua cabeça após inúmeras tentativas frustradas e assim seguiu em direção ao desconhecido. Este era um caminho não trilhado e, portanto, seus perseguidores não podiam segui-lo. Depois de horas fugindo, Jaxy estava fraco demais para ir mais longe quando parou e decidiu que era hora de desistir pois era melhor estar morto mas finalmente livre, do que mais um dia de escravidão. Jaxy fechou os olhos e esperou que a Floresta levasse sua alma para a eternidade.

Jaxy entrou sem saber em uma área protegida pela tribo dos Guaranis que algumas horas depois resgatou seu corpo, que já estava sem vida na floresta, mas nas mãos do poderoso Pajé eles trataram suas feridas e recuperaram sua energia vital. Acordando após dias de dedicação dos Guarani, Jaxy se viu cercado por outros guerreiros e novas pessoas amigas que o acolheram, fazendo-o sentir-se protegido, mas também sentindo que havia algo diferente, uma magia o cercava e ele sentia uma força sobrenatural correndo através de seu corpo.

Sem saber, a floresta aceitou sua rendição e devido ao seu caráter, decidiu conceder-lhe poder, força e agilidade para torná-lo novamente o guerreiro que sempre foi, mas agora, não mais para lutar por sua liberdade ou conquistas em nome de um Rei. Seu destino mudou e também seu nome, o povo Guarani o nomeou Japere, que significa “aos saltos” e assim nasceu Jaxy Japere, que aos poucos se tornou Saci-Pererê em português e usaria seu poder agora para proteger a floresta, indígenas e africanos escravizados por quase 3 séculos no Brasil.

Seus poderes agora se tornaram muitos, recebendo de Aroni, uma lenda iorubá de um ser que também tem uma perna que ensina a Ocânhim sobre o uso de ervas medicinais entre outros segredos da natureza. Na luta contra os escravizadores, o Saci herdou o capuz vermelho do lendário troll, um ser encantado do norte de Portugal, da região de Trás-os-Montes. Rebeldes, os goblins usam capuz vermelhos e possuem poderes sobrenaturais que deram ao Saci para ter sucesso em sua nova missão.

Assim nasce o lendário Saci-Pererê, um mito, quase impossível de capturar mas impossível de manter aprisionado, capaz das mais diversas “trapaças e artimanhas” para impedir que malfeitores tenham sucesso em suas atividades.

O Saci por Fabiano Cabral para o Legends of Amazon. Todos os direitos reservados.

Referências e inspiração:

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